Sobre a dívida pública, a sua sustentabilidade e a sua renegociação muito haverá a escrever e a desenvolver neste blogue, mas para começo de conversa convém lembrar o seguinte:
A dívida dos países não é, em condições normais, um investimento por aí além. De facto, por serem um investimento, normalmente, muito seguro os títulos da dívida pública não oferecem grandes taxas de juro. Até por isso são normalmente detidos por instituições que precisam de alta segurança e rendimentos garantidos. Também por isso a nossa Segurança Social tem de, no Fundo de Capitalização, garantir um «mínimo de 50 por cento em títulos representativos de títulos de dívida pública portuguesa ou outros garantidos pelo Estado português». As nossas seguradoras, em 2011 diziam que os «títulos de dívida como a categoria mais representativa (78,7 % do total)» das suas aplicações financeiras.
Ou seja, muitas e muitas vezes, quando falamos de reorganizar prazos, de renegociar dívidas, de default, etc, estamos a falar de aforradorres muito reais e concretos. Tão reais e concretos como os reformados e pensionistas portugueses.
PS: Quando após anos e anos de aumento insustentável da dívida pública ela, por aumento do risco de incumprimento, se torna mais apetitosa para investidores mais dispostos ao risco acontece o evidente: os juros sobem e a dívida torna-se mais cara. O que não muda a evidência de que o grosso da dívida está com investidores conservadores (nacionais e internacionais).
Já houve quem pagasse yields negativos para comprar dívida alemã… mas depois eles é que são os maus da fita… é o regabofe.
Numa outra nota, parabéns pela nova casa e votos de sucesso.
Obrigado, abraço.
Ao caso das seguradoras falta acrescentar o valor em obrigações que os bancos portugueses detêm de dívida pública! Ou seja o Estado não pode ir à falência, pois, em caso de renegociação, levaria os seus habitantes à falência…
Micha,
Mesmo a parte da dívida que está no balanço dos bancos, está lá para garantir os depósitos, que também são detidos por pessoas reais e concretas. Dito isto, também não são menos reais e concretas as pessoas que são forçadas a pagar essa dívida através dos seus impostos.
Bem-vindo de volta.
Não falei de bancos porque não tenho dados concretos mas claro que é o mesmo, não houve aqui nenhuma intenção de os deixar de fora por serem “maldosos especuladores” 😉
Quanto aos malefícios dos impostos que o Carlos refere não há qualquer discordância. O que tentarei desenvolver noutro post é que a dívida pública foi contraída usando meios legais e constitucionais para dar aos eleitores o que eles quiseram ao longo dos anos. Veja-se que Sócrates ganha em 2009 com reiteradas promessas de construir o TGV e o NAL ou com a Parque Escolar já em plena força.
E portanto, espero concluir, o regime e a constituição não quiseram saber de proteger os cidadãos destes desvarios e falharam.
“(…)o regime e a constituição não quiseram saber de proteger os cidadãos destes desvarios e falharam.”
Espero que esteja a referir-se também ao presente (~14 dias atrás):
“As propostas do PEC são más demais (…) a começar pela quebra de promessa e não aumentar impostos” – Michael Seufert, 09/03/2011
Pela boca morre…
Caro Carlos, 09/03/2011 não é propriamente há quinze dias atrás. E, de alguma maneira infelizmente, o CDS em 2011 não prometeu que não aumentava os impostos. Com a aceitação do memorando de entendimento ficou o CDS (como o PS ou o PSD) obrigado a uma série de impostos.
A actual carga ultrapassa mesmo o previsível à luz do memorando inicial? É provável que sim. Mas e se ninguém podia prever a decisão do Tribunal Constitucional, é bastante decepcionante que em paralelo com esse medida (inconstitucional) o governo ao fim de 15 meses não tenha para apresentar um programa de cortes na despesa.
O problema da dívida não são as segurados, ou os aforradores. Com o CGP bem disse, ao “cidadão comum” tanto lhe faz que o PPR não pague como o Estado vá ao seu salário (via impostos).
O problema aqui é o rollover da dívida, em que a taxa aumentou de forma excessiva. E o plano de recuperação – apesar de ter juros menores que os do mercado – tem uma taxa de esforço superior à nossa capacidade para o pagar. De outra forma, não é realista que o Estado português gaste mais em dívida que nas grandes rubricas do orçamento, como o SNS.
Eu não advogo a reestruturação da dívida ou haircuts, mas sim a renegociação do juro com a Troika. O juro pago por Portugal deveria nunca ser superior ao juro MÉDIO da zona EURO não-intervencionada (até podia ser indexada a este), normalizado per capita.
A continuar assim, e apelando aos teus 50% teutónicos, “Lieber ein Ende mit Schrecken als ein Schrecken ohne Ende”.
Sendo certo que qualquer euro poupado com juros é bom, a verdade é que os juro à Troika não são a fatia de leão da nossa despesa com juros.