A derrota do confisco às contas bancárias cipriotas é uma boa notícia, mas o mal pode bem estar feito. O negócio bancário é assente na confiança e essa foi irremediavelmente – no curto prazo, vá – abalada.
A questão é muito simples: foi chumbado o processo agora. E daqui a uma semana? Daqui a um mês? Daqui a um ano? Uma medida destas só se consegue fazer “no escuro”, i.e., nas costas dos depositantes. Se houver fuga, suspeita ou afim, começa a corrida aos bancos e o sistema colapsa. Por isso também se condicionaram no Chipre os acessos aos bancos até aprovação – que se verificou abortada – da proposta. Mas vamos agora poder ver o que acontecerá quando esse acesso for normalizado. E ou o governo cipriota reage a uma velocidade suficiente para passar a confiança que não haverá bancarrota e sucessiva saída do euro (processo em que os depósitos voltam a estar sob perigo e desta vez a 100%) ou temo bem que o sistema bancário da ilha esteja comprometido. E reside aqui a enorme irresponsabilidade dos ministros das finanças do Eurogrupo: seja no que desse a proposta, o mal para o sistema bancário europeu estava feito. E não vale a pena empurrar responsabilidades sobre quem teve a iniciativa. A aprovação da proposta pelo Eurogrupo é um acto de enorme irresponsabilidade para com o sistema bancário europeu e nunca se restringiria nos seus efeitos apenas ao Chipre – mesmo que nunca mais se volte a falar dela para outro país.
Alguém mais cínico dirá que foi de propósito. Que o colapso dos bancos cipriotas – ainda para mais cheios de dinheiro russo – ou o default da república é um risco calculado e limitado a 0,2% do PIB europeu para levar os restantes países a não se meter em aventuras.
Tal ideia só é ultrapassada em disparate pela substância da medida inicial.
Michael é muito difícil controlar o sistema financeiro da Europa. Temos uma chuva de países neste sistema financeiro com culturas económicas diversas, governados por ideologias diferentes e com constituições desiguais. Além disso o euro está desde o o início da CEE muito valorizado em relação ao dólar. É no entanto verdade que não vai ser nada pacífico para o Chipre e para a Europa aguentar os resgates que por aí vêm a muito curto prazo. Quem as faz tem que as pagar,
Se estava em causa o «confisco às contas bancárias cipriotas», pergunto se não é muito mais grave, um confisco de bradar aos céus, o actual nível de IRS a que estão sujeitos os trabalhadores portugueses que auferem parcos rendimentos de 700 ou 1000 euros/mês.
Os deputados que elegemos votaram favoravelmente o actual nível de carga fiscal esmagador, bem aquém do que teríamos no Chipre. Os deputados do CDS trairam-me e só estou à espera de novos confiscos.
O texto de M Seufert é refinada hipocrisia e falsidade: o aumento de tributação sinto-o bem – tirou comida da boca das minhas filhas, mas onde está o corte de despesa?
Quanto paga de IRS quem recebe 700 ou 1000 euros?
Só é verdade que a carga fiscal seria inferior no Chipre que cá se confundir taxar património com taxar rendimento. É que não é a mesma coisa e podemos fazer dois exercícios mentais:
*quanto rendimento mendal se tira de um património de, por hipótese, 100 mil €?
*quanto demora a acumular, em média, um património de 100 mil € a quem aufere 1000 ao mês?